TV

Não me lembro do dia em que isso começou. Nem sei por que começou. De repente eu estava ali parado olhando para o travesseiro e contando os minutos pra chegar o próximo dia. Por quê? Que diferença faria um dia a mais ou um a menos? Nenhuma. Nada daquilo fazia sentido. Tudo muito virtual, cheio de malícia, de facilidades intermináveis como comprar um universo inteiro pela internet e estourando o limite interminável do cartão de crédito internacional. Mesmo assim eu não consegui um momento sequer de abstração pra perceber que aquilo estava fora da minha alçada. Sentido era algo completamente exógeno ao momento.

Segui com a minha convicção e um sorriso desmedido no rosto. Cara de criança boba que acabara de ganhar um presentão de natal. O “Reino da Alegria” estava instalado e eu ficava na cadeira admirado com as piruetas do bobo da corte. Talvez seja a cultura do entretenimento que enraizou nos miolos. Enquanto a TV te faz rir ou você se reconhece nela tudo é perfeito, mas pare pra assistir as enchentes e desabamentos que tudo se transforma como num passe de mágica. De mágica não, de lógica. Lógica? Lógica tem que ter coerência, nexo, congruência, nada disso apareceu na tela da minha TV. Talvez o problema seja o canal. Talvez seja o controle remoto. Se for o controle então fudeu...porque parece que a pilha acabou.